O processo de globalização da economia e da comunicação, a evolução das tecnologias e a consciência da globalização das redes têm provocado acentuadas transformações na sociedade, impulsionando o surgimento de novos paradigmas, modelos, processos de comunicação educacional e novos cenários de ensino e aprendizagem digital. Mas ninguém, nem mesmo os professores que já adotavam ambientes virtuais em suas práticas, imaginava que uma mudança tão rápida e emergencial seria necessária, quase obrigatória, devido à expansão da COVID 19.
De fato, a suspensão das atividades escolares no território do presencial físico, um pouco por todo o mundo, levou à obrigatoriedade de professores e alunos migrarem para ambientes virtuais, revelando, por um lado, as possibilidades e desafios da Educação a Distância, e por outro, o papel crucial das escolas como comunidades seguras e com forte sentimento de pertencimento. A crise e as experiências de educação remota online de emergência em toda a Europa e no mundo na Primavera de 2020, e a subsequente operação dupla, com a reabertura parcial das escolas em alguns desses países, também permitiram compreender que, em vez de regressar totalmente à forma como a educação escolar funcionava, é possível pensar numa educação mais blended, mais híbrida, que permita combinar diferentes presenças (físicas e digitais), tempos (síncronos e assíncronos), tecnologias (analógicas e digitais), culturas (pré-digitais e digitais) e, sobretudo, articular diferentes espaços e ambientes de aprendizagem (analógicos e digitais).
Mais do que a integração de ambientes físicos e virtuais de aprendizagem, o ensino híbrido deve afirmar-se como um conceito de educação total caracterizado pelo recurso a soluções combinadas, envolvendo a interacção entre diferentes modalidades, abordagens pedagógicas e recursos tecnológicos. Ou seja, mais do que integrar ambientes de aprendizagem físicos e online, o ensino híbrido deve ser entendido, por um lado, como uma estratégia dinâmica que envolve diferentes recursos tecnológicos, diferentes abordagens pedagógicas e diferentes tempos e, por outro, como um processo de comunicação altamente complexo que promove uma série de interacções entre actores humanos e não humanos que podem ser bem sucedidas desde que todos estes elementos estejam incorporados.
De facto, em tempos de profunda transformação, de um mundo estruturado de forma complexa onde coabitam o analógico e o digital, o real e o virtual, o humano e a máquina, o offline e o online, do reconhecimento de que vivemos numa nova ordem social, cultural, económica, política e, até, ética e da evolução vertiginosa das tecnologias digitais, deparamo-nos com a necessidade de repensar o paradigma educativo onde a comunicação pode assumir um papel central unindo e aproximando os atores humanos e não humanos. Esta centralidade do processo de comunicação, e não do professor, do aluno ou da tecnologia, remete para variáveis comunicacionais significativas como a interacção, a ligação, a conexão e a participação, essenciais à relação pedagógica.
Pensar os processos de inovação sustentados neste contexto, e não disruptivos, significa que estas formas híbridas, se apresentam como uma tentativa de oferecer o melhor das diferentes realidades existentes.
A implementação de modelos de educação híbrida, não como um processo puramente disruptivo, mas como um processo de inovação sustentada, permitir-nos-á avançar para a ideia de uma comunidade educativa unida nos seus propósitos de mudança.
Neste século, as experiências de educação mista aumentaram significativamente, como resultado de diferentes iniciativas para inovar pedagogicamente, especialmente em escolas em áreas remotas; no ensino de comunidades itinerantes; no ensino de estudantes que são também atletas de alta competição; ou em situações de emergência relacionadas com conflitos armados ou desastres naturais.
No entanto, esta abordagem também pode ser implementada eficazmente sem ser em situações excepcionais, se forem tidos em conta vários factores. O importante é que as decisões se baseiem no que é melhor para o aluno em função do contexto; que haja uma compreensão clara e uma justificação sólida para incorporar esta abordagem híbrida; e que as acções sejam cuidadosamente planeadas, criadas e monitorizadas.
Este tipo de abordagem mista pode permitir, em função da realidade actual que vivemos de imprevisibilidade em relação à frequência das instalações escolares de todos os alunos em simultâneo, desenvolver situações de aprendizagem flexíveis e personalizadas.
Figura 1. Aprendizagem combinada: personalização e flexibilidade
Fonte: European Commission, 2020, p. 8
Mas, para além da compreensão desta realidade, esta abordagem mista exige também um elevado nível de competência e inovação dos professores e dos dirigentes escolares e uma transformação do sistema educativo e dos seus mecanismos de apoio, em termos de legislação e estruturas, recursos, desenvolvimento profissional e garantia de qualidade.
É necessário, por exemplo, definir um quadro legislativo com uma estrutura flexível que permita a ocorrência de mudanças. Um quadro que inclua, por exemplo, a aprendizagem em ambientes virtuais; que descreva a forma como os currículos e a avaliação podem ser abordados ou ajustados para funcionarem eficazmente nesta abordagem mista; que defina directrizes para estruturas de ensino e aprendizagem mais flexíveis e combinadas; e que exija que todos os agentes educativos realizem formação neste domínio.
No entanto, esta mudança de abordagem só é possível se os professores e os alunos colaborarem ativamente neste processo, uma vez que depende também da sua própria capacidade de participar ativamente, como indivíduos e grupos, num espírito de criatividade e investigação.
Contribution by:
José António Moreira
José António Moreira is an Associate Professor of the Department of Education and Distance Learning, in Universidade Aberta. He is also the Director of the Regional Delegation of Oporto and the Executive Coordinator of the Unity of Development of Local Centers of Learning, in Universidade Aberta.
He holds a PhD and master’s in Educational Sciences from the University of Coimbra and a Post-Doctorate in Educational Technologies and Communication also from the University of Coimbra.